segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Superação de expectativas

Desde a semana passada eu estava com um tema na cabeça,
mas queria ler um pouco para poder escrever...
Lembro-me, claramente, das reuniões antes do parto da Manuela,
entre grávidas, mamães e doulas, a respeito de tudo o que poderia acontecer
no trabalho de parto...
E sempre quis pontuar cada ítem muito discutido em relação ao meu trabalho de parto, mas nunca fiz. Rs. Sei lá, agora que estou articulando.
Ítem 1: Interferência dos parentes mais próximos e do marido (marido não é parente, juridicamente falando). Lembro das doulas comentando os inúmeros episódios em que as mães e o marido das grávidas intervinham de tal modo que atrapalhavam o andamento do trabalho de parto ou mesmo o inviabilizavam...Conversei isso até com meu terapeuta. A conversa com ele foi excelente!
Nós interpretamos o mundo a partir de nossas experiências e já tem algumas décadas que as mulheres são conduzidas a "não conseguir o parto normal" nem a "ter leite para amamentar"...Assim, as nossas mães praticamente não tem histórias de partos normais para contar às filhas, não entendem de parto normal, só de cesárea. Além disso, quando fazemos alguma coisa, imediatamente criamos um discurso justificador daquilo, para nosso bem-estar emocional. Logo, você ouvirá a maioria das mães dizendo que a cesarea é prática, que você está mais arrumada depois do parto e outras coisas que são repetidas para que as opções daquelas mulheres façam sentido para elas e para os outros. É assim para tudo o que nós, seres humanos fazemos. Criamos um discurso interno de apoio às nossas decisões. Quando isso não acontece, nos arrependemos das escolhas.
Então, eu fui a única filha nascida de parto normal da minha mãe. Ela sempre contou que eu demorei a nascer, passei da hora, nasci roxa...Rs. Mas, eu li muito, vi milhões de videos, ouvi as doulas e escolhi o médico que eu sabia por provas práticas que faria um parto normal em mim (ele faz parto normal toda semana! pronto! sem isso, não ia rolar!), confiei nas doulas maravilhosas que cuidaram de mim, meu marido é calado, também queria o parto normal e não interviu em nenhum momento do trabalho de parto (a não ser para reparar que deveríamos evitar o horário do rush na ida ao hospital...Rs...prático!), e minha mãe acompanhou tudo sem intervir também (!). Essa história de berrar de dor é bem folclórica e não aconteceu, então, não tinha porque ela intervir. Além do que eu demorei a nascer, então, para ela, a espera fazia parte do processo!
No internamento, também, só podiam entrar comigo duas pessoas. Então, Antonio entrou e as duas doulas, também. Rs. É assim, nós criamos a situação para meu parto normal. Quando entrei no hospital com doulas, e o médico era o Miner, todos lá já sabiam. E é assim que se faz para não sair do seu plano de parto! Chama o Miner, a Patrícia e a Felicitas! Rs.
Foi demorado? Foi. Foi comigo a história, é uma questão emocional que se coloca ali, na hora do parto. E eu estava tão bem amparada que consegui. Manuela nasceu, não ficou roxinha, eu precisei relaxar para que ela nascesse. Meu próximo filho terá um nascimento mais tranquilo, ainda! Porque uma questão emocional foi superada e eu mudei o ciclo emocional, agora posso conduzi-lo melhor!

Ítem 2: Uso de fórceps.Tem a ver com tudo o que disse antes. Porque nas reuniões as mulheres que ali estão buscam um parto com o mínimo de intervenções possíveis. Prentende-se evitar a analgesia, o fórceps, a indução e tudo o mais...Eu fiz uso dos 3. O médico usou o fórceps para ajustar a cabeça da Manuela (Ela só encaixou para nascer, não ficou na melhor posição), rapidamente. Eu recebi analgesia porque fiquei sem dormir direito e meu cansaço estava adiando a dilatação. Quando cochilei, minha dilatação deslanchou! E induzi porque, pelo tempo de trabalho de parto, o médico achou melhor ajudar na terceira fase, já que eu estava com 9 de dilatação. Foi rápido e ótimo!
A Analgesia foi perfeita, eu só senti menos as contrações, mas, mexia minhas pernas normalmente, e com a indução senti tudo, nenhuma dor forte, como já li em muitos relatos, fiz duas forças a pedido do médico, porque Manuela encaixou e nasceu, e ajudamos Manuela a vir para o mundo. Ela nasceu fácil, num momento que foi lindo para mim e que deve ter sido para ela, que me ouviu rir de felicidade ao anunciar que ela estava nascendo!
Então, eu experimentei todas as intervenções não desejadas no parto e mesmo assim eu fiquei muito bem e Manuela também nasceu bem! Até o pediatra que foi o do plantão, foi tão especial! E agora ele é parceiro em parto com as doulas! Que maravilha!
Faltava essa parte no meu relato de parto. Dos meus sentimentos mais antigos, que me acompanhavam desde sempre e que agora não mais sombreiam meu agir e sentir, o que me permite realmente seguir minhas escolhas em todos os detalhes.
Há meses tento ir às reuniões de doulandas, mas, não consigo...Ou o marido volta de viagem e eu tenho que ir buscá-lo e perco a hora, ou fico retida em algum compromisso até tarde...Mas, assim que eu puder ir, gostaria de pontuar essas questões emocionais que o exemplo da mãe traz a uma grávida, de que a mãe dela só sabe dizer que foi boa sua cesárea, e conhece mil e um relatos de partos normais problemáticos...E o quanto isso vai somando no inconsciente da grávida...
E aí que o parto normal não acontece, né? No fundo, existe uma grande desesperança por parte dos parentes de que o parto normal aconteça, porque quase ninguém o viu, conheceu...será que ele existe mesmo? História longínqua e cheia de mistérios, incertezas, medos...Ui!
E quando nós escutamos que alguém quer "tentar" um parto normal, e vemos que não escolheu um médico realmente honesto com a grávida, que pode contar todos os partos que fez e faz disso sua rotina..Ixi! Já sabemos que não vai rolar...
É como Kant já falava, pela educação o homem torna-se autônomo, de criança orientada passa a adulto que pensa por si mesmo...A lucidez e segurança que a instrução traz à pessoa permite que se saiba o que esperar de exames, procedimentos e conduta do médico em um parto normal. E essa autonomia permite à mulher não se submeter, ceder ao comando desonesto que existe nas frases feitas mais mentirosas da medicina, como "você não tem dilatação (a mulher nem em trabalho de parto está, por que dilataria?)", "não há sinal de que você vá entrar em trabalho de parto (é...sinais, como? a cabeça do filho já pra fora? O trabalho começa de repente mesmo!)", "Você tem quadril estreito, vai ter dificuldade no trabalho de parto (mentira! a avaliação dessa questão só é possível no trabalho de parto e nao é determinada pela parte externa, e sim interna!)", "pressão alta, vai ter que se cesárea (UI! cesárea é pior na maioria das vezes em que a grávida tem pressão alta!), "o bebê tá sentado e não quer virar (grande mentira, porque o bebê vira várias vezes, até no trabalho de parto, e sempre se pode esperar que ele fique numa posição boa!)...
Eu não entendo como o conselho de medicina não faz nada contra essas práticas mentirosas e manipuladoras das grávidas! Mas, se isso acontecesse comigo, ia brigar até o fim por um médico tirar de mim o direito à escolha sobre meu parto...Ora pois! Não vim pra essa vida à passeio, nem pra brincadeira alheia...Respeito!
Beijos,
Gilda

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