quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Mito ou vida?

Eu sou fã de carteirinha de uma série de tv chamada criminal minds. E eles sempre elegem frases relacionadas com os casos que investigam. Dia desses, citaram o mito da Grande Mãe. Fiquei com vontade de escrever! Rs.
A mitologia valeu-se tanto do que de humano havia no mundo como do que a natureza demonstra aos seres humanos. Daí o mito da Grande mãe. Ela carrega elementos humanos e extrahumanos. Mas ela é símbolo de vida: nascer, desenvolver-se, reproduzir-se, perecer. Seus atributos são essenciais: fertilidade, abundância, alimentação...
Em algum momento da narrativa que os seres humanos fizeram sobre suas vidas, que não vou detalhar aqui, os templos da Grande Mãe foram destruídos e os grandes deuses guerreiros, viris, subjugaram as mulheres, fizeram delas suas amantes à força, negaram-lhe sua estatura, transformaram a paisagem, revolucionaram a visão humana do mundo...
Depois que as mulheres foram subjugadas, elas perderam-se, inclusive, umas das outras. No desespero em merecer um lugar ao lado do homem, que elas mesmas colocam diariamente nos pedestais de seus altares domésticos, não poderia haver compaixão entre elas...
E os deuses impuseram sua autoridade, sua rigidez, sua infidelidade, seu distanciamento emocional sobre a realidade humana...
Pior...Coube à mulher, menor, subjugada, que luta a vida inteira para merecer estar ao lado do seu infiel marido, dar-lhe filhos...Que filhos poderiam ser gerados, afinal? Por isso a mitologia é tão fértil para analisarmos nosso mundo. Porque ela retrata as virtudes e os defeitos dos seres humanos, que também existem nos deuses. Assim, Zeus violentava mortais e fazia filhos semi-deuses. Assim, Afrodite, tomada de ciúme, vingava-se das mortais bonitas, condenava-as. Assim, a gula, o alcoolismo e outras questões difíceis para nós também assim eram para os deuses...
Com a perda da igualdade, não consigo evitar de pensar que se perdeu a esperança...
De um mundo justo, amoroso, sincero e de compaixão...
À mulher restou os filhos, gerados com a esperança de eles sim darem-lhe o amor idealizado que nem o próprio marido consegue dar. E assim, ela cria deuses, que, enquanto sob sua proteção, estarão a salvo da vil atração das outras mulheres, apóia o exemplo masculino da infidelidade, subjugação, superioridade de sexo...E assim, ela cria suas filhas a partir de seu exemplo, e assim suas filhas seguem seus passos e encontram um homem que as subjuguem para o resto de suas vidas...
A Grande Mãe representa o fluxo da vida. Ela gera, nutre, dá ao mundo seus filhos. Os bons e os ruins. De semi-deuses a monstros. Mas, ela prefere ser engolida por seus filhos a ter que ferí-los. É da essência da Grande Mãe a eterna bondade sobre seus filhos. Mesmo que eles só mereçam o desprezo da sociedade. Mesmo que só ela consiga tal ato. Mais ou menos como em Antígona. Mesmo que só ela, se vendo em seus filhos, enxergue bondade, como em um reflexo espelhar...
De todas as formas ela sofre, porque, reproduzindo o universo e os valores em que vive, não consegue educar seus filhos, ser repeitada por eles, e ela sabe que experimenta uma forma outra de "infidelidade", agora dos filhos...Eles a usam, manipulam, mentem sobre seus atos...
Mas, o fluxo da vida permite que em algum aspecto os filhos se aperfeiçoem, cheguem aonde seus pais não chegaram...E quem sabe não é assim que a sociedade evolua? Não por um juízo final ou várias voltas, mas através dos filhos?
É neles que a esperança estaria, afinal...Na superação da proteção despida de senso de justiça, na superação de uma subjugação feminina que acaba por tornar a Grande Mãe a força que move o mundo masculino; a mãe que se torna algoz de suas filhas e das filhas dos outros; da Mãe que não respeita outra mulher, que teme a aproximação de qualquer outra mulher, que acaba por menosprezá-la, como os homens, mas por motivo diverso...No fundo, tudo se resume a uma disputa silenciosa por ser melhor...Eles classificam-nas, elas acreditam nisso...
Bem refletido Jung, bem refletido...
Ninguém deve viver pensando: "ufa! arranjei um marido!"...Isso é patético. Encontre um companheiro de vida. Um homem que lhe respeite e não queria só ser servido. Não pense: "ufa! tive filhos!"...Se o homem que está ao seu lado não se esforça para ser bom pai, sua vida será de uma solidão enorme. Fique com o homem que quer ter um filho com você. Que quer ajudar a criá-lo e orientá-lo. Participe da vida de seu filho. Não se iluda a respeito deles. Não é útil de nada. Quem julga com justiça os filhos, educa-os. Quem não quer nem julgar os filhos, deseduca-os.
Uma vez me disseram assim: "tenho uma filha. Quem tem filha não deve reparar na filha de ninguém". Muito bem dito! Cuidem dos seus filhos, ensinem-lhes a terem caráter, honestidade, respeito. Preocupem-se deles serem honestos, éticos, nao se drogarem, nem serem manipuladores...
Agora quem sabia bem o que as filhas das vizinhas faziam, deixou de ver que sua filha fazia igual a elas...Mas, é da natureza também o juízo sobre os frutos- os filhos. Como na série de TV que citei lá no começo, a mãe sabia que seu filho fazia algo errado, mas não queria acreditar, até que se tornou público...Não se sabe até que ponto a dor é pelo filho ou pelo "filho que ela criou"...Onde começa um e termina o outro? Onde se diferenciam? Quando se trata de filho é muito difícil responder...
A Grande Mãe defende-o porque assim se defende...Nessa relação tão especial, a eiva do filho acomete a mãe, também...Por isso a mãe não o julga, porque não quer ser julgada, não o expõe porque nao quer ser exposta...
Uma prosa para refletir...
Beijos,
Gilda
   

Um comentário:

Andrea Rocha disse...

Gilda, estou adorando esse assunto de mitos! Li recentemente O Poder do Mito de Joseph Campbell e amei. Se tu ainda nao lestes, da uma olhadinha nele. Na minha opiniao as pessoas têm dificuldades pra entender que os outros nao pensam como nos. Gente, o nosso filho é um ser humano independente, no sentido de que ele tem seus gostos, suas vontades, seu raciocinio proprio, seus sentimentos. Claro, como mae, me sinto frustrada às vezes quando nao consigo amarrar os cabelos da Magali! kkk Mas nao posso obriga-la. Tenho que convencê-la. Sempre conversando. Sempre! Senao nao funciona. É isso, os pais têm que mostrar o caminho, dar orientaçao e exemplo. Mas os filhos mais tarde tomarao suas proprias decisoes e nao podemos fechar os olhos para isso. Sejam elas boas ou ruins, é a vida deles! Um otimo dia pra vcs! Bjs!